Fomos destaque na última edição da revista Galileu, da Editora Globo.
A matéria aborda o tema Doomsday Preppers, e fala sobre a preparação para eventos apocalípticos com potencial “Fim do Mundo”.
Veja a íntegra da matéria:
Doomsday Preppers: as comunidades que se preparam para o fim do mundo
No Brasil, um dos maiores grupos tem 3 mil membros; nos EUA, eles podem chegar a 9 milhões. Diante de tantas catástrofes, será que esse plano de sobrevivência apocalíptico faz sentido?
O mundo nunca esteve tão ameaçado: no dia 23 de janeiro, o Boletim dos Cientistas Atômicos, da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, adiantou o Relógio do Juízo Final em 20 segundos. Desde então, faltam só 100 segundos para a “meia-noite” — horário estabelecido pelos cientistas para representar quando aconteceria a destruição do planeta. O relógio foi criado em 1947, na Guerra Fria, e essa é a essa é a primeira vez que chegamos tão próximo da fatídica hora.
Não é preciso ser um cientista atômico para perceber que, de fato, temos passado por poucas e boas desde o início de 2020 (e nos últimos anos, claro). De incêndios que devastaram a Austrália a ameaça de guerra entre duas potências nucleares, passando por um novo vírus que surgiu na China e temporais que deixaram grandes cidades do Brasil completamente alagadas, a sensação de catástrofe iminente parece inevitável.
Alguns grupos de pessoas, porém, levam esse sentimento ao extremo, e há anos se preparam para o fim do mundo: são os sobrevivencialistas, ou “Doomsday Preppers” no nome em inglês (significa algo como “preparadores para o fim do mundo”). Essa comunidade se solidificou principalmente a partir do fenômeno 2012, conjunto de crenças segundo as quais o mundo acabaria no dia 21 de dezembro daquele ano. O mundo não acabou, mas isso não impediu que os sobrevivencialistas se unissem em preparação para a possibilidade de outra catástrofe. Será que eles têm razão?
“Fala-se muito em colapsos da sociedade que podem levar ao fim do mundo, mas há muitas outras coisas que acontecem antes disso”, observa o programador carioca Raphael Cozzi, de 35 anos, representante de uma das maiores comunidades de sobrevivencialistas do Brasil, a Preppers Brasil. “Nós tentamos mostrar que o fim do mundo não é o único objetivo, é importante sempre estar preparado para tudo.”
Hoje com 3 mil membros, a comunidade é dividida em diferentes núcleos, que se organizam para compartilhar ideias e dicas de sobrevivência. “É importante conhecer sua região, saber das ameaças, do que seria preciso. Se você mora no Rio de Janeiro, não vai se preparar para uma tempestade de neve”, pondera o carioca.
Sobrevivência milionária
Segundo Cozzi, existem diferenças quando o assunto é preparação para catástrofes. “Há um grupo mais sobrevivencialista, que busca sobreviver com os recursos do meio e se adaptar a ele, e há os preparadores, cujo objetivo é ter recursos acumulados”, diz. Na visão dele, o planejamento deve ser pensado a curto, médio e longo prazo, pois é inevitável que uma hora as reservas acabem – mesmo que se tenha uma quantidade muito grande de alimentos e outros suprimentos.
O grupo brasileiro é menos radical do que outros mundo afora, onde pessoas chegam a investir US$ 19 mil em abrigos antibombas, caso de alguns preparadores japoneses, ou até US$ 75 mil em um ano, como um preparador norte-americano. Muitas dessas histórias, aliás, viraram séries de TV e reality shows, como Preparados para o Fim, que foi ao ar entre 2012 e 2014 na National Geographic.
O ecossistema nos Estados Unidos é o maior e, talvez por isso, um dos mais conhecidos por seus exageros. Segundo o site The Prepping Guide, a Terra do Tio Sam tem entre 4 e 9 milhões de pessoas se preparando para o fim do mundo, das quais entre 15% e 30% gastam em média US$ 1.850 em mantimentos e produtos para esse momento.
Não à toa, existe toda uma indústria dedicada a isso, com lojas como a The Ready Store, que vende produtos de sobrevivência online, a Emergency Essentials, uma grande varejista de comidas prontas e geradores solares, e a My Patriot Supply, que comercializa estoques de comida para seis meses.
Melhor prevenir do que remediar
“A vida é algo muito bonito e frágil, isso nos angustia, estamos sempre buscando formas de sobreviver”, explica o professor de Psicologia Social Hélio Roberto Deliberador, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “Desde que o homem é homem, das sociedades mais simples às mais complexas, especula-se sobre o fim do mundo”, diz. Isso vale tanto para teorias religiosas quanto científicas — a ciência inclusive daria um passo à frente não só imaginando o fim do mundo, mas buscando lugares para abrigar a vida quando a Terra não existir mais.
Na visão do professor, o mundo globalizado, em que as informações circulam em alta velocidade, contribui para deixar os nervos à flor da pele e aumentar a sensação de emergência. “Isso tudo agudiza no coração das pessoas a ideia de que está se cumprindo um encadeamento de fatos ou profecias que levarão ao fim do mundo”, analisa Deliberador. O paradoxo, ele diz, é as pessoas se preocuparem com situações de exceção ou restrita a regiões específicas — como o coronavírus — e, ao mesmo tempo, não se vacinarem contra a gripe.
O líder da comunidade brasileira concorda com a opinião do professor, mas com ressalvas. Ele acredita que hoje existem ameaças reais muito mais perigosas do que um meteoro caindo na Terra ou a inversão do campo magnético, algumas das teorias comuns para o fim do mundo. “Um dos grandes riscos hoje é um colapso financeiro, e é um risco mais regional do que global, o que não significa que não possa se tornar global criando um efeito dominó”, diz. Entretanto, como um bom sobrevivencialista, ele defende que é melhor ter estratégias de sobrevivência e não precisar delas, do que precisar e não tê-las.
Ainda assim (e esse é um ponto com o qual nenhum especialista parece discordar), mais importante do que se preparar para o fim do mundo é fazer o possível para evitar que ele aconteça. Por isso, a comunidade de preparadores brasileiros têm iniciativas em prol de toda a sociedade. Em 2017, por exemplo, eles apresentaram à prefeitura do Rio de Janeiro um plano para prevenção de enchentes na cidade. O projeto, infelizmente, não avançou muito.
E, como escreveu Rachel Bronson, presidente da organização responsável pelo Relógio do Juízo Final, promover o debate e oferecer recomendações sobre como afastar o relógio para longe da meia-noite são atitudes que surtem efeitos. “Nós já fizemos isso antes [ganhar de volta alguns segundos], o que significa que certamente podemos fazer de novo”.
Mas, de acordo com ela, é preciso entrar em ação logo. “Em 2020, porém, os líderes mundiais têm menos tempo até a meia-noite para tomar suas decisões, e a necessidade de agir para reduzir o risco de uma guerra nuclear e as mudanças climáticas é grande. Por favor, continuem a pressionar seus líderes a agirem agora, como se a vida deles dependesse disso. Porque a deles — e as nossas — sem dúvidas dependem.”
O mundo vai acabar?
As teorias mais comuns para o fim do mundo, na visão dos sobrevivencialistas:
Inversão dos polos magnéticos da Terra
A ciência comprovou que tal evento ocorreu entre 10 e 20 mil anos atrás. Uma nova inversão dos polos magnéticos causaria o enfraquecimento da camada eletromagnética do planeta, deixando-o vulnerável a explosões solares e tempestades magnéticas, que podem destruir o sistema de produção e distribuição de eletricidade no planeta.
Manipulação e geoengenharia
Um dos exemplos mais clássicos é o dos rastros químicos: acredita-se que os rastros de fumaça deixados por alguns aviões contenham elementos químicos que são usados para determinados fins, entre eles, espalhar doenças e manipular o clima.
Invasão Alienígena
Aqui podemos dividir a ameaça em dois grupos: alienígenas invadindo o planeta e um governo secreto que planeja uma falsa invasão alienígena, utilizando hologramas e projeções – a Nasa também estaria por trás desse plano, como era de se esperar.
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Fonte: Galileu/Editora Globo